sexta-feira, 24 de setembro de 2010

T(r)ópico #63 - Olhares... V

T(r)ópico #62 - Musica Mwangolé III

Homem casado, ou "Cota" como é mais vulgarmente conhecida, é mais uma música com a intervenção do badalado artista Yuri da cunha que, com o Dj Marcelo fazem desta música do Dj Jesus, mais um dos Hits deste paralelo tropical.

A musica retrata na perfeição, e uma vez mais, aspectos da sociedade local. Estão quase sempre ligadas às relações mais ou menos amorosas, conjugais ou extra-conjugais. Esta... é sobre os mais velhos que olham para as miúdas mais novas, e claro... as cobiçam...

Fica o som...


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

T(r)ópico #61 - Olhares... IV

T(r)ópico #60 - Musica Mwangolé II

Kuma Kwa Kié do músico Yuri da Cunha (um dos mais badalados artistas destes trópicos) é, sem dúvida, uma das minhas musicas favoritas.

É um semba de uma energia tal, que chega a ser inebriante!!!

O Artista que a criou, criou também um estilo de a dançar muito particular, com um movimento das pernas meias flectidas que, circulando, levantando-se e brincando com os "n" possíveis movimentos que a rótula dos joelhos nos permite fazer com a parte inferior das pernas, que a tornou célebre.

O seu filho, já o imita e faz algumas danças com ele em concertos. É fascinante de ver e ouvir! E ao vivo... tem um impacto ainda maior no público.

A dança tem claras origens nas danças tribais, em que os interpretes parecem possuídos por espíritos. Esta é talvez a evolução de um tipo de dança aqui muito difundido também, chamado de "Melindro". Nessa sim, é ainda mais clara a origem tribal da dança.

"Kuma Kwa Kié" (cuma quá quié), quer dizer em Kimbundo: "Despertar ao cantar do Galo" Pode também ser interpretado como "Acordar para novas conquistas," que é como quem diz, ir à luta.

Fica o som... e a dança!


T(r)ópico #59 - Carta de um Trabalhador

20.09.2010

Hoje, um dos meus trabalhadores aqui, o Tchivota, mais conhecido por "Pastor", chegou junto a mim com um papel quadriculado dobrado em várias partes, formando um pedaço papel dobrado com cerca de 6x3cm.

Esboçou algumas palavras e entregou-me esse pedaço de papel. Como quase sempre, não percebi nada do que ele queria dizer. O português dele é muito pobre, e mistura as palavras que conhece com outras palavras do dialecto local, "Kimbundo", o que resulta numa mistura quase indecifrável.

A juntar a isto, há ainda o facto de que, quando fala, não abre muito a boca e, motivado por uma humildade característica que se reflecte muitas vezes submissa, a vocalização das palavras é muito baixa, e com os decibéis debitados pelos ruídos normais que se fazem sentir num local de obra, é que não percebi mesmo.

Como sei que é analfabeto, fiquei na dúvida se queria que eu lhe lesse o conteúdo, se me queria simplesmente entregar só o papel para meu conhecimento. Pelo sim e pelo não, parti do princípio que fossem as 2 coisas, e que queria que eu lesse o papel. E foi o que eu fiz... li-o em voz alta.

Bom, tenho que dizer que já há muito tempo que não patinava tanto para ler uma dúzia de linhas manuscritas!

Além do português ser horrível e a letra não ajudar, não percebi bem o conteúdo da dita carta, se bem que percebi o objectivo.

O pai, Sr. Tchivota, quer que o filho volte à província para fazer a Cédula Pessoal dele que não possui. Devido ao português dele, não percebi bem se queria que o filho se despedisse, ou pedisse licença para o efeito.

Perguntei ao "Pastor" (Tchivota filho), se ele queria ir à província. Respondeu-me com a palavra que lhe ouço mais vezes sair da boca: "Sim". Não convicto ainda com o esclarecimento do enigma, Perguntei-lhe se se queria despedir ou pedir Licença, ao que me respondeu... "Sim"!

...Sim!??? Mas sim o quê!? Voltei então a perguntar que só queria licença para ir à província, ao que me respondeu... "Sim!" Ok, menos mal... depois voltei a perguntar, se voltava ao trabalho. Resposta: "Sim!".

Ainda meio na dúvida, e para que não lhe desse autorização sem ter a certeza exacta do que ele queria, informei-o de que iria analisar o assunto e depois lhe dizia alguma coisa, ao que ele me respondeu... (vê lá se adivinhas...) pois, respondeu: "Sim!"

Para que se tenha uma ideia do que falo, deixo aqui a carta digitalizada:

(clicar na imagem para aumentar)

Uma delícia!!! uma verdadeira pérola! Eu volta e meia apanhava uns mails destes na minha caixa de correio electrónica, que isto já tinha acontecido a alguém. Alguns eram tão raros que pareciam mentira.. bom.. hoje foi o dia de me acontecer a mim!

Ofereço um caramelo a quem conseguir ler de enfiada esta carta, e a quem me conseguir decifrar na íntegra o conteúdo dela.

T(r)ópico #58 - Musica Mwangolé I

Inauguro aqui, inspirado pelo T(r)ópico #44, mais um capítulo dedicado aos Trópicos. Este é dedicado aos ritmos tropicais, Kizombas, Sembas, Tarraxinhas, Melindros e até Kuduros!"Hits" destas terras que fazem mexer o povo.

A musica aqui tem um efeito como nunca presenciei em nenhum outro país que tenha visitado. Todas as pessoas danças, todos lhe sentem a sua energia! E, quando por algum motivo, um mwangolé fica parado à beira da estrada ou noutro sítio qualquer, de imediato começa a dançar, a trautear uma musica qualquer que lhe vem de dentro... confesso, é algo que chega a ser tocante, pela simplicidade e alegria contagiante com que sentem e vivem estes ritmos... e sempre, mas sempre com um sorriso nos lábios!

Este 1º, é um Semba do Rei Helder ft Yuri da Cunha, intitulado "Essa quer me matar".

É uma música muito ritmada e que sabe muito bem dançar! Isto, para quem sabe, claro!

T(r)ópico #57 - A mudança das Estações, ou a resistência Angolana!?

O Verão e o Cacimbo, na forma do maior Imbondeiro...

Imbondeiro no Verão

Este é provavelmente o maior Imbondeiro que alguma vez vi na vida! Fica localizado em Calumbo, e neste blog já lhe fiz uma outra referência, e esta não será certamente a última.

É uma árvore impressionante! Tem um porte brutal, e a sua escala não parece humana. Para uma melhor percepção basta reparar no tamanho das pessoas sentadas no muro sob o imbondeiro... (clicar na imagem para melhor visualização)

Não encontrei melhor exemplo para poder explicar a diferença das estações aqui.

As estações aqui resumem-se a duas! A Estação das Chuvas (Verão), e a Estação Seca - mais conhecido por: "Cacimbo" (Inverno).

Na estação do Verão, que decorre entre Setembro a Abril (8 meses), atingindo o seu pico em Dezembro, as temperaturas são altas, variam entre cerca de 30º e 45º (Luanda) o clima é húmido, abafado, com muito muito calor, desde as primeiras horas da manhã até à noite, e por esta a dentro.

É o período do ano, onde volta e meia caem umas chuvadas tropicais (ver T(r)ópico #23) que deixam tudo inundado e provocam, junto ao mar, as famosas Kalembas (Marés Vivas). Neste período a chuva faz rejuvenescer tudo que é da Natureza, os campos ficam verdes, os animais têm maior vivacidade, e claro.. os Imbondeiros ficam cheios de folhas, frondosos, e produzem o seu fruto, a múcua (ver T(r)ópico #30), que também tem um aspecto verde.

Viajar ou passear pelas imensas paisagens do sertão angolano repleto de Imbondeiros verdes, é uma paisagem fantástica que nunca mais se esquece...


Na estação do Cacimbo (Inverno), que decorre entre Maio a Agosto (4 meses) atingindo o seu pico em Julho, as temperaturas são mais baixas, variam entre cerca de 18º e 28º (Luanda), o clima é seco, e desde manhã até à noite, uma espécie de neblina cinzenta densa cobre o céu, e nos dias de menos calor (há quem diga de mais frio, mas para mim 23º de temperatura média neste tempo não é frio..), chega a cair uma espécie de orvalhada ténue. É esta névoa intensa e permanente a que chamam cacimbo, e que dá o nome à estação.


Imbondeiro no Cacimbo

É um período caracterizado por uma ausência de chuvas, o que faz com que tudo que é verde seque, as árvores deixam cair as folhas, e as múcuas dos imbondeiros, secam e caem. Estas são prontamente apanhadas pelos locais para fazer o sumo de múcua. Outras utilidades são dadas também ao interior deste fruto, que é vendido como "puff" natural nas lojas de produtos naturais, óptimo para a esfoliação da pele.

As paisagens do sertão destes trópicos mudam drasticamente, e o verde dá lugar a uma paisagem seca, com os imbondeiros alinhados como fantasmas de braços erguidos (ver T(r)ópico #50). A paisagem chega a ser tão desoladora, quando assustadora...

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Não deixa de ser curioso, que na imagem do Imbondeiro (o tal maior) existam, aproximadamente no mesmo sítio das duas imagens, do Verão e na do Cacimbo, umas pessoas sentadas... Claro que é óptimo para se perceber a escala desta árvore descomunal, mas... será que ninguém lhes diz que já podem ir para casa!?? Não é preciso ficarem lá de novo à espera da próxima estação...

sábado, 18 de setembro de 2010

T(r)ópico #56 - Olhares... III

01.09.2010

T(r)ópico #55 - As serpentes urbanas Angolanas!

Realmente, e para quem duvidava, as serpentes urbanas angolanas existem mesmo! São enormes, densas, arrastam-se vagarosamente e tendem a agrupar-se nos entroncamentos e cruzamentos!

Falo das serpentes de carros que, um atrás do outro, fila ao lado de fila, entopem todas as artérias da cidade, espalhando o seu veneno tóxico por todo o lado, deixando um rasto de névoa escura pelos céus de Luanda.

Tal como com as serpentes selvagens (as verdadeiras), aqui todas as pessoas as evitam, fogem delas, têm medo... de ficar horas as fio a esvaírem-se em desespero, a lamentarem as horas, os acidentes, a confusão, os que se metem pela esquerda, os que se metem pela direita, os que, impacientes, buzinam atrás quando nada se mexe à frente... todos as evitam... mas elas estão por todo o lado... e no fim... todos são por elas "picados"...

...Ficam ali... moles, com o sol de chapa, a elevar ainda mais a já alta temperatura (safam-se os que têm AC), a olhar para o anteontem, a pensar no amanhã, a suspirar... quando mal se consegue respirar... pois esta serpente é daquelas que apertam mesmo bem...

Por vezes são escassos centímetros, milímetros até, que separam a batida... e quando batem mesmo... bom então aí há "Maka!" Saem dos carros, gritam, gesticulam, esperneiam, e agridem se for preciso... para no fim, ir cada um para seu lado... pois seguros aqui... é como o oásis no deserto! É uma miragem!

Cada um assume a sua despesa, e se o carro já não andar, não há "Maka!". Amarra-se uma corda ao candongueiro, e este vai ali, ligado por uma corda-umbilical, a puxar o outro! E se levar os 4 piscas ligados, vais cheio de sorte, pois a grande maioria, nem um tem, quanto mais 4!!!

Mas estas serpentes... são as serpentes do centro da cidade! Fora dele... há um outro tipo de serpente, ou melhor... de serpentear!!!

Bem vindo a... Luanda Sul!!!

....

A sul de Luanda, fica uma área que designam de Luanda Sul. É no fundo uma área nova da cidade, ligada à cidade "antiga" por uma artéria nevrálgica que atravessa toda a Samba e vai dar ao município de Benfica (Norte), a uma zona nova chamada de Talatona.

Talatona é uma área nova, maioritariamente residencial, composta por grandes e "luxuosos" condomínios (entenda-se luxuoso como um luxo relativo, atendendo aos padrões africanos), pontuada por algumas zonas de torres de escritórios de arquitectura do vidro (muito conveniente - ironicamente falando - para um país tropical, com temperaturas elevadíssimas e uma exposição solar intensa), e ainda o único centro comercial existente até ao momento, o Belas Shopping.

Esta zona foi e está a ser construída maioritariamente por uma empresa brasileira, a Odebrecht, que a nível das infraestruturas, as constrói exclusivamente.

Então o que é que obtemos!? Um país Africano, Angola, descoberto e colonizado por um país Europeu - Portugal, que edificou e criou a maioria das infraestruturas do país, é agora infra-estruturado por uma companhia de um país Sul-Americano, o Brasil, também ele uma ex-colónia do tal país europeu, e urbanizado (operações urbanísticas de condomínios) por... Chineses!!!

Bom, já se está a imaginar a bela salganhada que isto dá!!!

Resumindo, em Angola, numa área nova da cidade antiga, de estrutura e linhas portuguesas, temos chineses a construir numa infraestrutura brasileira!!!

E é essa mesma infraestrutura que, em Luanda Sul, se ganha uma nova dimensão da expressão serpentear!

Embora as sinuosas estradas da cidade original, penhadas de carros, o possam realmente parecer, eu entendo como serpentear os zig-zagues inúteis e sem sentido que aqui somos obrigados a fazer! Levando o carro a serpentear entre estradas e retornos, fazendo kilómetros atrás de kilómetros para virar e voltar ao mesmo sítio quando, uma simples rotunda, permitiria seguir em frente...

Está certo que aqui as rotundas, ao contrário das europeias (e a cidade de Viseu, nisto tem um doutoramento - Case Study), em vez de circularem e escoar o trânsito, têm o efeito oposto... atrofiam e congestionam... e porquê!? pergunta o meu leitor mais curioso...

É muito simpes! Porque como as regras de trânsito aqui não existem, ou pelo menos não são aplicadas, então entra toda a gente ao mesmo tempo para a rotunda, ignorando a regra da prioridade, e congestionando-a!

É claro que depois novas regras de prioridade são criadas, como por exemplo: tem prioridade o carro mais robusto, ou o carro mais "podre" (pois este está pouco preocupado se leva mais uma batida); ou por exemplo da regra da prioridade do nariz! Passo a explicar.. o carro que primeiro conseguir meter o nariz, tem prioridade sobre o outro... Afinal... até no Caos, na confusão do trânsito, se encontram regras...!!!

Mas voltando aos retornos...

A infraestrutura rodoviária criada pela tal empresa brasileira, implementou em Luanda Sul, o sistema do seu país natal, no qual se ressaltam os tais retornos.

O retorno é uma forma de, nas vias rápidas, se inverter a marcha para o sentido oposto. É um sistema económico muito utilizado em países menos desenvolvidos, pois permite efectuar inversão de marcha em vias rápidas sem recorrer a viadutos, pontes ou túneis. O problema aqui, reside basicamente em 3 aspectos:

1. O primeiro e mais gravoso, é que eles se localizam sempre do lado esquerdo das vias rápidas, e é na faixa mais à esquerda que se circula mais rápido. Então, para entrar num retorno o condutor tem que colocar o seu carro na faixa mais rápida e reduzir a sua velocidade para entrar no retorno. Quando sai, acontece exactamente o inverso, sai com uma velocidade reduzida (os que não se espetam contra os rails dos retornos), e entra num curto espaço directamente na faixa de maior velocidade.

Bom... não é preciso puxar muito pela imaginação para se perceber o que muitas vezes acontece...
Aliás, quem tiver um gosto especial e fascínio pelos acidentes automóveis mais estapafúrdios basta que pegue numa cadeira, se sente (à sombra de preferência) à beira da estrada num local seguro, e em meia tarde vê certamente meia dúzia de acidentes, ou um cento de "quase acidentes" de arrepiar a espinha de um gato!

2. O segundo aspecto, prende-se com os condutores que depois, ao saírem dos retornos, se querem deslocar para a faixa deles, ou seja, para a faixa da direita. E isto acontece muito, principalmente com os camiões.

Para ser mais claro, vamos fazer um pequeno exercício (que não é mais do que a descrição de um episódio típico, centenas de vezes presenciado): Um camião pesado, cheio de areia para uma das milhares de obras que aqui existem, pretende sair do retorno e passar para a faixa mais à direita. Sai do retorno a cerca de 20 ou 30km/h e entra numa faixa onde carros circulam a mais de 140km/h. Ao sair da faixa de aceleração, deve já ter atingido os 40/60km/h, e resolve então fazer uma diagonal pelas 2/3 faixas de rodagem até se posicionar na faixa mais à direita, a cerca de 80km/h, deixando uma nuvem densa de pó, (metade causada pela areia que transporta, a outra metade pela areia que se acomula sempre na berma das estradas, juntamente com os restos dos pneus rebentados). Bom não é preciso fazer um filme para se imaginar o que acontece... No meio deste processo, há carros a passar a 140km/h pela esquerda e pela direita, buzinadelas por todo o lado e quando um dos carros que ultrapassa o camião pela direita, após atravessar a núvem de pó, se depara com um outro camião em marcha lenta... "Pum!!!"

É nessa altura altura que o curioso que gosta de assistir aos acidentes, e que estava já a adormecer debaixo da sombra que encontrou, se levanta e diz: "xiiiiiiii.... mais um!".

3. O terceiro aspecto, e mais frustrante de todos, é o tempo que se perde para fazer um trajecto aparentemente rápido e curto, e que se transforma num longo e penoso caminho sem sentido.

É o desespero de ver a continuidade da estrada mesmo à nossa frente, do outro lado da via, mas que para lá chegar e dar continuidade ao trajecto, tem que se percorrer mais não sei quantas centenas, por vezes vários milhares de metros, até chegar a um retorno, e fazer tudo de novo até ao mesmo ponto onde nos encontrávamos, só para passar para o outro lado da estrada...

Já para não falar nas estradas de um só sentido, que nos obrigam a ziguezaguear como uma serpente a imitar uma barata tonta, e que nos forçam a fazer o triplo ou o quadruplo dos quilómetros, só para "ir daqui ali"...

Apresento um exemplo de um trajecto que faço com alguma regularidade:

A verde, o trajecto que seria lógico efectuar.
A vermelho, o que sou obrigado a fazer....

imagem 1

imagem 2

Em diagrama, para uma melhor percepção.
Trajecto verde (o lógico): 0,150km
Trajecto vermelho (o real): 2,750kmTrajecto verde (o lógico): 1,100km
Trajecto vermelho (o real): 3,750km

E tudo isto poderia ser resolvido com uma simples rotunda... e claro, civismo ao volante! Duas coisas bem complicadas de encontrar!!!

E eu até percebo porque não existem rotundas nestas novas vias, não é só a questão de que quando fazem uma rotunda de dimensões normais, esta rapidamente fica congestionada, é também porque dá imenso jeito à empresa que agora constrói e implementa esta estrutura viária vir, daqui a 4 ou 5 anos, partir tudo de novo para meter rotundas onde antes as poderia ter colocado. Lógico, não? É claro que a lógica a que aqui me refiro é a do Dólar. "Porquê fazer agora bem e ganhar por isso, quando posso fazer mal agora para depois voltar para remendar e ganhar o dobro!?"

Há ainda a questão dos semáforos nas passadeiras. Em Portugal, e outros países da Europa, os semáforos são colocados antes de modo a que o condutor imobilize a sua viatura antes de chegar junto da passadeira. Aqui não!

Aqui, tal como no Brasil (e não admira que assim seja, uma vez que a empresa que está a infra-estruturar esta área é brasileira), os semáforos aparecem depois da passadeira. Já se está mesmo a ver o que acontece! Os condutores quando param os carros, (e os que param, pois há os que ignoram simplesmente), param já em cima da passadeira. E quando até conseguem parar antes, param já para lá da barra pintada no pavimento. O que já não é mau, pois já garante alguma segurança, mas... mas, isso dá direito a multa. E claro, quem é que se fica a rir com isto? O belo do Polícia que monta o seu estaminé à sombra junto a uma passadeira, e fica ali a esfregar as mãos de contente a ver quem é o primeiro branco que para o carro para lá do limite da barra para de imediato o mandar parar, desenrolar todo o rol teatral que se faz, para no fim ganhar a sua "gasosa", e desejar: "bom fim de semana, senhor condutor".

Fico com a ideia que este sistema de sinalização luminosa junto das passadeiras deve ter sido negociado com a Administração Central, a quando da decisão da suma implementação, como uma forma de "compensar" o árduo trabalho dos agentes de segurança rodoviária, já que eles aqui... "trabalham muito"!

Não se engane o meu leitor, pois estes termos todos pomposos que aqui escrevo como: "agentes de segurança rodoviária", e outros, não são propriamente a imagem que tem no seu país dessas instituições e agentes... aqui, bom aqui tudo é, digamos... "contornável".

O problema é que, por mais que resistamos, acabamos sempre por ser "picados por estas serpentes", e damos por nós, a ziguezaguear atordoados nas filas sem fim, anestesiados pelo longo arrastar das horas, de suspiro atrás de suspiro, envenenados por este serpentear rodoviário...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

T(r)ópico #52 - Fim de tarde na praia deserta

2010.08.14



A tarde era a de Sábado, e por ventura foi um sábado até que não se trabalhou de manhã. Mas nestes dias do Cacimbo, o dia nasce cinzento e cinzento termina. É o inverno dos trópicos.

Bom, não se pode dizer bem que seja inverno, pois as temperaturas rondam a mínima de 20/23º e máxima de 25/27º. Não tem Sol. Pois, está bem, mas a temperatura compensa!

Normalmente, e a partir de Agosto, o Sol lá vai aparecendo, timidamente por entre um manto de nuvens, primeiro espesso, e depois já fino, quase rendado, lá para o fim do dia. Nunca aparece é em todo o seu esplendor, pois por mais fino que seja esse manto, ele cria sempre uma certa camada, quase misteriosa, que ao surgir o Sol cria uma espécie de difusão solar, criando efeitos dignos de registo, principalmente na altura mais fantástica do dia... no pôr-do-sol!!!

África tem muitos fascínios, de facto, mas este é especial. Confesso, já viajei por muitos sítios do mundo, já vi muitos "pôr" e "nascer" do Sol, mas aqui... aqui é algo de inigualável! Consegue-se ficar minutos a fim, a olhar para o Sol, sem ferir a vista. Ele é enorme, em tons alaranjados, e capta a nossa atenção longamente... digo e repito, é algo digno de se ver, e que certamente irá ficar retido nas minhas memórias de África.


Chegámos à tarde, deveriam ser por volta das 15h00, o que aqui já é bastante tarde, considerando que o sol se põe (mesmo) por volta das 18h00.

O Por do Sol aqui, como já referi é lindo de ser ver, fascinante mesmo, mas tem outra característica que ainda não revelei, a transição entre o dia e a noite, é repentina!!!

Aqui quase não existe o "lusco-fusco"! Ao aproximar-se da linha do horizonte, o Sol, começa a ganhar proporções gigantescas, em tons alaranjados, e desce vertiginosamente em direcção à linha do horizonte. Uma vez desaparecido totalmente (estamos a falar em poucos segundos), ultrapassada que esteja a linha do horizonte, a noite surge num ápice. Apenas cerca de 15/20 minutos separam o pôr-do-sol da noite cerrada.

Durante imenso tempo indaguei-me o porquê deste fenómeno, mas há poucos dias, em conversa com um amigo meu, engenheiro, ele veio com uma teoria que me convenceu, e que realmente tem toda a lógica. (Verdade seja dita, nisto os engenheiros são muito bons pois têm sempre uma solução lógica, mas mais que isto, prática para as coisas).

A teoria dele, e com toda a lógica, é que em Portugal, o pôr-do-sol demora mais tempo porque Portugal se encontra num paralelo muito mais afastado da linha do Equador, e como tal, o sol efectua uma trajectória muito mais de rasante relativamente à linha do horizonte e por isso demora mais tempo a atingi-la, ultrapassa-la e desaparecer a luminosidade, ao passo que aqui, muito mais próximo da linha do Equador, ou seja, no Trópico, a trajectória é muito mais vertical, quaser perpendicular, e por isso o Sol, "cai" mais vertiginosamente, assim como a noite surge muito mais depressa. Lógico, não? Realmente nem sei como é que não me surgiu isso, sendo que este Blog trata das aventuras nos trópicos!

Bom, voltando à praia... esta foi escolhida exactamente pelo que vou passar a descrever... por ser uma praia... deserta!!!

Bom, não é que nesta altura do ano as praias não estejam quase todas desertas, pois aqui as pessoas, acham que está... bom, até me custa escrever... acham que está... frio!!!!

Eu não sei bem como, até porque eu passei a tarde toda dentro de água, desde que cheguei, até quase ir embora, já perto das 18h15m.

Mas o facto é que as pessoas no Cacimbo até fogem da praia, como o diabo foge da cruz, pelo suposto "frio" que elas sentem junto ao mar (e fora dele). Ainda o ano passado dei com um vestido com uma camisola de lã de gola alta, ao meio da tarde, e eu de t-shirt, e cheio de calor.

Bom, mas voltemos à praia... hmmmm... a praia.... sim, estava óptima! Poderia tentar descrever a sua beleza, e como era fantástico estar numa praia assim, mas acho que aqui vou recorrer a aquela máxima que diz que, "uma imagem vale mais que mil palavras", e se uma vale mais que mil, então o que dizer de duas!?

Então aqui vai... esta era a praia. Descemos a picada de carrinha (um novo modelo indiano que está a implementar-se aqui "Mahindra") e conduzir a carrinha até à língua de areia, saí da carrinha e fiz o resto a pé. E bom... esta era a imagem da praia, à minha esquerda....

e à minha direita.....


É caso para dizer... palavras para quê?

Foi um fim de tarde muito bem passado, mais um daqueles que vai constar no meu álbum de memórias, do continente mãe... e estas.. valem bem o espaço que ocupam!

É nestes "recantos", e nestes momentos, que me encontro com a imagem romântica, aventureira e fascinante deste continente... é aqui que se sente mais um dos fascínios de África!

T(r)ópico #51 - Meio de Transporte no Interior

É simples é barato e.... parece ser divertido!

Em andamento:


Na Paragem à espera do... Condutor:

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

T(r)ópico #50 - Beleza Sinistra no Cacimbo

13.09.2009



O período é o do Cacimbo, o período das secas. Uma altura do ano que aqui designam de "Inverno", com temperaturas a rondar os 23/25º constantes. À noite cai uma ligeira humidade (o tal cacimbo) e o céu está sempre coberto por um manto espesso de nuvens cinzentas que ameaçam chover, mas nunca chove...


No Outono europeu, as folhas caem das árvores, e também aqui, a diferença é que aqui caem no tal.. Inverno! Bom também como só têm 2 estações só podia ser mesmo nessa!

As árvores mais características daqui, os Imbondeiros, que no verão ficam fantásticos, com as folhas e os frutos verdes (ver T(r)ópico #28 e #30), no Cacimbo, deixam cair a folha, os frutos (a múcua) e ficam despidos...


A imagem é sinistramente bela!!!

Vista pelo retrovisor do jipe, parecem um bando de seres estranhos, amontoados em nossa perseguição...



Há os que, numa luta inglória contra os elementos naturais ainda tentam suster alguma dignidade, aguentar os seus frutos, prolongar a queda da sua "roupagem"... mas esses são os que, se não pelos ramos meio despidos, ou pela sua forma, apresentam o ar mais sombrio, qual árvore-antropomórfica de tronco encorpado, pescoço esguio, cabelos despenteados, e braços abertos de dedos prontos, para te agarrar...